Conjuntura da Construção – FEPICOP
Apresentação
Com esta primeira análise de conjuntura da FEPICOP – Federação Portuguesa da Indústria da Construção e Obras Públicas (AECOPS, AICCOPN, AICE e ANEOP), mantém-se o compromisso de divulgar uma análise mensal, agora com nova abordagem e que terá como objectivos:
a) Enquadrar a evolução conjuntural do sector da Construção em Portugal no contexto ibérico e europeu, designadamente monitorizando os ciclos de crescimento do imobiliário e da engenharia civil, bem como o impacto negativo que a quebra na Construção – devido ao elevado défice de investimento – tem causado na economia portuguesa face à evolução contrária no contexto europeu.
b) Acompanhar a evolução de três aspectos fundamentais: o tecido empresarial, o emprego e a produção por segmentos de actividade.
Empresas
2.1 Empresas de construção – segundo o IMOPPI, no final de Janeiro de 2007 estavam legalmente habilitadas para o exercício da actividade no Sector da Construção 51.134 empresas, das quais 26.743 com Alvará e as restantes com Título de Registo.
2.2 Índice de empresas activas – de acordo com a amostra FEPICOP, o número de empresas activas decresceu de um índice de 112,4 em Dezembro de 2006 (Janeiro 2000 = 100), para 108,0 em Janeiro de 2007, correspondendo a uma variação negativa de 3,8%, o que reflecte a tendência de evolução da produção.
2.3 Indicador de confiança – de acordo com o inquérito de conjuntura da FEPICOP, o nível de confiança dos empresários apresenta um valor de 90 pontos em Janeiro, sendo agora menos pessimista que em Dezembro de 2006, quando registava 84 pontos, apresentando sinais de uma ligeira inversão de tendência, apesar de ainda se manter em terreno negativo. Ainda neste plano, as empresas declaram uma carteira de encomendas de 10.5 meses, a par de perspectivas de produção que se revelaram menos negativas do que há um ano atrás.
2.4 Situação financeira – No que respeita à situação financeira, Janeiro registou um índice de 89.9 pontos, revelando-se menos desfavorável que no passado recente (87,7 pontos em Dezembro de 2006). O crédito concedido em 2006 ao sector da Construção cresceu 6.2% face ao ano anterior, pese embora a evolução da actividade ter sido desfavorável.
2.5 Concorrência – A concorrência no mercado das obras públicas, medida pelos desvios que os valores de adjudicação vão apresentando face às bases de licitação indicadas nos concursos públicos, continua a intensificar-se, estando esse desvio em menos 18% no final de Janeiro. Também os valores médios propostos a concurso estavam, em Janeiro de 2007, cerca de 16% abaixo das bases que foram indicadas, traduzindo-se, também por esta via, a forte concorrência existente nos mercados públicos, situação que se prolonga há muito tempo.
Síntese: O conjunto de valores indicados traduz as dificuldades que as empresas de construção têm vivido, detectando-se, no entanto, ténues sinais de esperança que esperamos se confirmem nos próximos meses.
Emprego
3.1 Emprego – De acordo com os resultados para 2006 do inquérito trimestral ao emprego realizado pelo INE, trabalhavam em média cerca de 553 mil pessoas no sector da construção, o que corresponde a uma variação de apenas menos 0.2% no emprego do sector face a 2005. Do total de trabalhadores do sector, estima-se que cerca de 70% sejam trabalhadores por conta de outrem.
3.2 Desemprego – A taxa de desemprego no sector foi de 6,9% em 2006, valor que traduz uma diminuição de 0,5 pontos percentuais face ao ano de 2005, quando se situou em 7,4%. Esta tendência de redução do desemprego manteve-se em Janeiro de 2007 segundo os dados recentemente publicados pelo IEFP.
3.3 Custo da mão-de-obra – A evolução dos custos da mão-de-obra foi em 2006 de 3,8% no sector da construção e de 2,2% no conjunto dos sectores de actividade económica em Portugal, traduzindo um aumento relativamente mais acentuado deste tipo de custos no sector da Construção.
Síntese: A dimensão da crise que o sector vive não está reflectida na evolução do emprego, apurada através do inquérito do INE, devido ao eventual reflexo dos fluxos migratórios da mão de obra que se estão a verificar com destino ao resto da Europa.
Produção
A FEPICOP pretende iniciar a divulgação de análises de evolução da produção por segmentos, baseadas num conjunto de novos indicadores construídos de uma forma inovadora, visando obter uma melhor qualidade no acompanhamento do desempenho do sector da Construção.
O objectivo é fornecer uma primeira fotografia da produção e, simultaneamente, uma tendência da evolução futura da actividade. Naturalmente, tratando-se de uma nova abordagem, estes resultados carecem de um período de validação da sua boa adesão à realidade que se pretende medir, daí que os valores que se apresentam ainda sejam provisórios e, basicamente, traduzem a nossa visão do ano de 2006 e as perspectivas que se antecipam para 2007.
Assim, nesta primeira informação, dão-se a conhecer, de forma resumida, as nossas previsões mensualizadas. Os resultados agora divulgados, apesar de estimativas, de um modo geral acompanham a evolução conhecida dos principais indicadores dos diferentes segmentos de actividade da Construção, e, portanto, permitem antever o andamento da conjuntura do Sector no curto prazo.
Porque estamos num período de transição nas metodologias utilizadas e por não se encontrar ainda disponível toda a informação considerada necessária para a construção de indicadores sintéticos com a qualidade que exigíamos, procura-se evidenciar as grandes tendências e os movimentos de fundo, por isso optámos por construir indicadores de ciclo mais longo cujos valores apresentados mensalmente reflectem a tendência do ano, já que foram construídos com base na produção acumulada nos últimos 12 meses.
Ainda assim, no caso dos Edifícios Residenciais e devido à informação estatística já disponível, optou-se por ir um pouco mais longe e apresentar desde já os resultados até agora obtidos através de um novo indicador.
4.1 Segmento dos Edifícios Residenciais
No caso da produção de Edifícios Residenciais, o indicador sintético agora apresentado resulta da conjugação de informação estatística diversa que até ao momento era analisada de forma independente, como é o caso do licenciamento de fogos para habitação, consumo de cimento e as opiniões expressas pelos empresários.
Como se pode observar no gráfico, o nível de actividade do segmento de Edifícios Residenciais, manteve-se em quebra sensível, em redor dos 6%, durante o ano de 2006, prolongando-se essa evolução negativa até Fevereiro do ano corrente. Já para o mês de Março, o andamento do indicador aponta para uma ligeira inflexão desta tendência, embora a actividade se mantenha francamente abaixo do nível registado no período homólogo do ano anterior.
4.2 Segmento de Edifícios Não Residenciais
De acordo com o indicador agora apresentado relativo à produção de edifícios não residenciais privados e tal como se pode observar no gráfico seguinte, o nível de actividade atingiu o ponto mais baixo em Junho de 2006 e, de então para cá, assiste-se a uma recuperação suave, gradual e sustentada.
Depois da estagnação observada em 2006, antecipa-se um crescimento de 1,8% na actividade produtiva no primeiro trimestre de 2007, com a produção a crescer mensalmente cerca de 2% em termos homólogos.
No que concerne à produção de edifícios não residenciais públicos, a evolução é, pelo contrário, desanimadora, com um decréscimo muito acentuado no seu volume de produção. Em Dezembro de 2006, a redução da actividade atingiu os -12%, nos meses de Janeiro e Fevereiro a produção poderá decrescer 9%, e, ainda de acordo com o mesmo indicador, esta evolução manter-se-á em Março, período em que se estima que a produção decresça 3,2% face ao mês de Fevereiro.
4.3 Segmento da Engenharia Civil
A crise profunda no segmento da engenharia civil acentuou-se ao longo de 2006, com a produção a decrescer 6% em termos acumulados.
Entretanto, nos primeiros meses de 2007, manteve-se a tendência de quebra com a crise a acentuar-se. No final de Março, a redução da actividade poderá atingir os -8.2%; não obstante, como se pode observar no gráfico, o nível de produção tende a estabilizar como resultado de variações homólogas menos negativas, em torno dos -2.5%.
Por outro lado, a evolução positiva do índice de novas encomendas, das promoções e das adjudicações no início de 2007, pode vir a contribuir a curto prazo para atenuar a recessão e permitir a inversão da tendência observado nos últimos meses.
Comparação internacional
Segundo o Eurostat a produção do sector da construção cresceu 0,5% quer na Zona-Euro quer na União Europeia a 25 em Dezembro último face ao mês precedente, contribuindo para o crescimento anual médio de 4,2% e de 4,0% respectivamente.
De realçar que Portugal foi o único país da União Europeia que apresentou em 2006 uma variação negativa da produção do sector (-6,6%) o que contrasta com o registado na Alemanha (+6,6%), em França (5,7%) e em Espanha (+1,6%), já para não referir os países que aderiram recentemente à União Europeia que apresentaram taxas de crescimento superiores a 10% nomeadamente a Roménia (+21,4%), a Eslováquia (+16,3%), a Eslovénia (+15,3%) e a Polónia (13,3%).
De acordo com a mesma fonte, salienta-se que a produção do segmento da construção de edifícios registou uma variação de 4,7% quer na União Europeia a 25 quer na Zona-Euro, contrastando fortemente com a situação vivida em Portugal, onde se registou uma contracção da produção de 7,1% face a 2005. No segmento das obras de engenharia civil verificou-se uma subida de 1,3% na União Europeia a 25 e de 1,7% na Zona-Euro, enquanto que em Portugal se verificou uma diminuição da produção de 5,7%, em termos homólogos.
Síntese: Esta evolução reflecte a persistência do diferencial de investimento em Portugal, em relação aos seus parceiros europeus que, inevitavelmente, resulta na crescente perda de competitividade da nossa economia.
Pode efectuar o download da conjuntura em versão pdf, aqui.