Síntese de Conjuntura do Sector da Construção Civil e Obras Públicas – Abril/2004
O mês de Abril veio dar continuidade ao movimento de redução do pessimismo sentido pelo sector. Não obstante, essa trajectória, tal como nos meses anteriores, caracteriza-se por um sentimento geral negativo, expresso pelo Indicador [1] Global de Conjuntura que, em Abril, se situou em -25,0%.
Por segmentos de actividade, constata-se ser sobre o mercado de edifícios não residenciais que há expectativas menos pessimistas, seguido do de edifícios residenciais e, finalmente, do de obras públicas, sendo os respectivos indicadores de conjuntura de -23,0%, -23,9% e -27,1%. Contudo, é neste último que se verifica uma maior recuperação de expectativas, pois em termos homólogos aquele indicador variou em 8,5 pontos percentuais (p.p.), enquanto, por exemplo, na habitação essa variação quedou-se pelos 5,5 p.p..
No segmento de obras públicas, a melhoria das expectativas quanto à produção nos próximos três meses (sentida desde Dezembro de 2003), tem-se traduzido numa efectiva melhoria da actividade das empresas que laboram nesse mercado. De facto, de Janeiro a Abril de 2004 o indicador de actividade aumentou 12 p.p., situando-se agora em -16,9%. Porém, o índice de produção que o INE publica relativo a esse segmento relativiza esse resultado, denunciando a persistência de uma trajectória de redução da produção, se bem que a taxas menores do que as registadas em 2003. Sucede, assim, que havendo sinais de um maior ritmo de lançamento de concursos públicos, essas obras ainda não se converteram em efectiva produção, o que justifica da parte dos empresários uma atitude conservadora quanto ao investimento em equipamento produtivo, cujo indicador para os próximos três meses observou uma redução de 3,1 p.p., situando-se em -37,3%.
No mercado habitacional, as boas notícias continuam a vir do sistema financeiro, persistindo a tendência para a redução dos encargos com os empréstimos à habitação. A taxa de juro implícita no crédito à habitação apurada pelo INE tem observado sucessivas quedas, sendo em Março passado de 3,82%. Pode antecipar-se que em termos globais esse comportamento irá subsistir, já que as taxas praticadas nos contratos mais recentes são, em média, 0,49 p.p. mais baixas. Tal deve-se à evolução favorável da Euribor a 3 meses que em final de Março era de 1,96%, mas deve-se também à menor margem de intermediação bancária, verificando-se que nos contratos celebrados até há 3 meses, em média, aquela taxa de juro implícita excede em 1,37 pontos a Euribor, sendo essa diferença de 1,87 pontos se se tomarem em consideração os contratos mais antigos.
Adicionalmente, a melhoria do indicador de actividade do segmento habitacional, que em Abril se situou em -16,5% (quando em Janeiro era de -20,7%), pode ser explicado pela travagem na redução do consumo de cimento. Em Março o consumo de cimento teve uma variação homóloga de 10,6% [2], elevando a taxa de variação homóloga acumulada de -16,8% em Dezembro para -1,1% em Março. Desde Maio de 2002 que não se observava uma variação homóloga positiva neste indicador. Tal sustenta a recuperação das expectativas de produção para os próximos três meses, que no mês Abril aumentaram em 3,8 p.p., nomeadamente por força da evolução do mercado no Norte de Portugal, onde o número de fogos licenciados nos primeiros dois meses do ano registou, face a igual período de 2003, um crescimento acumulado positivo, na ordem dos 3,5%.