Subida das Taxas de Juro Agrava Crise no Mercado da Habitação
Sendo embora verdade que as taxas de juro continuam a níveis historicamente baixos, é um facto que, em apenas dois anos, o seu valor duplicou, passando a Euribor a três meses de pouco mais de 2% para mais de 4%.
De acordo com Reis Campos, presidente da AICCOPN, apesar de inevitável, dado o actual ciclo da economia europeia, este incremento da taxa de juro veio condicionar ainda mais o desempenho do mercado da habitação em Portugal, o qual vinha já, devido a outros factores, apresentando um registo negativo com consequências directas na actividade de construção.
De facto, os dados disponíveis têm vindo a confirmar a tendência de redução de actividade do segmento de construção de edifícios residenciais. O decréscimo trimestral de 7% estimado para a produção neste segmento até ao final de Julho reflecte isso mesmo e resulta da análise às quebras no licenciamento residencial que se vêm verificando há largos meses. Esta queda é tanto mais notória quando é certo que vem somar a muitas outras nos últimos cinco anos.
Mas não é só a redução dos licenciamentos que mostra a quebra no mercado residencial. Os dados do crédito à habitação para o primeiro trimestre de 2007 divulgados pela Direcção Geral do Tesouro confirmam esta tendência, com as variações homólogas do número e valor dos empréstimos contratados a registarem quedas de 12% e 10%, respectivamente.
A verdade é que o efeito de subida de taxas de juro é particularmente mais nefasto em Portugal, dado o andamento divergente da economia e o elevado grau de endividamento das empresas e das famílias, sustenta a AICCOPN, lembrando que esta subida dos juros surge num contexto de crescimento económico forte na maioria dos países da zona Euro, com criação de emprego e elevada confiança dos agentes económicos, exactamente o inverso da realidade que Portugal conhece, já que a retoma do crescimento continua a ser muito tímida e não teve ainda efeitos nos emprego.
Reis Campos estima que, neste quadro de referência, a procura de habitação por parte das famílias portuguesas continue em baixa, o que significa que só poderá haver recuperação através da atracção do investimento de estrangeiros para a compra de 2ª habitação, a exemplo do que ocorreu na vizinha Espanha.
A AICCOPN defende que este esforço deverá envolver tanto os privados como entidades públicas e recorda que vender uma casa a um estrangeiro não é o mesmo que vender um qualquer produto industrial, já que a casa implica deslocações e estadias regulares em Portugal, consumindo de produtos nacionais e gerando um impacto directo sobre a economia nacional com efeitos ao longo do tempo.
O crescente agravamento das taxas de juro está a ter efeitos muito negativos no mercado da habitação em Portugal, contribuindo ainda mais para uma crise que se faz sentir desde 2002, considera a AICCOPN – Associação dos Industriais da Construção Civil e Obras Públicas.